Discalculia, o mal de números


  • 28 de setembro de 2010 | 

  • 23h30 | 

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  • Categoria: Saúde
    Mariana Lenharo
    Imagine um jogo de futebol entre Corinthians e Guarani no Pacaembu. Quem entra no estádio é capaz de perceber claramente que a torcida do Timão é maioria nas arquibancadas.
    Mas saber distinguir qual é a maior ou a menor parcela do público pode não ser tão simples para quem tem discalculia, uma disfunção neurológica caracterizada pela dificuldade de resolver cálculos matemáticos e pela falta de noção de quantidades.
    Na reta final do ano letivo, esse tipo de transtorno, de difícil diagnóstico, pode estar por trás do desempenho ruim do estudante na matemática – a má performance escolar, porém, pode ser influenciada por inúmeros fatores.
    Para saber a dimensão atual da população brasileira atingida pela discalculia, o psicólogo Pedro Pinheiro Chagas, pesquisador do Laboratório de Neurologia do Desenvolvimento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), coordena desde 2008 um estudo sobre a prevalência da disfunção no Brasil.
    “Ainda existem poucas pesquisas sobre o tema no País, ao contrário do que ocorre com a dislexia (distúrbio relacionado à linguagem), área do conhecimento que já evoluiu bastante”, afirma.
    Para o cientista político Alexandre Barros, de 68 anos, que descobriu ser discalcúlico aos 55, a dislexia é mais conhecida e tratada porque as pessoas vivem de palavras. “De certa maneira, é mais fácil esconder a dificuldade com números do que com a linguagem”, diz.
    Os sinais da discalculia variam conforme a idade, mas todos os portadores do distúrbio costumam sofrer nas aulas de matemática.
    Segundo a psicopedagoga Valéria de Andrade Cozzolino, associada à Associação Brasileira de Dislexia, o discalcúlico não consegue adquirir o conteúdo por mais que se esforce e, quando os pais e os professores demoram a perceber que as notas baixas não resultam de preguiça ou má vontade, as consequências podem ser graves. “As crianças sofrem, são rotuladas pelos professores de preguiçosas e isso afeta muito a autoestima”, diz.
    Especialistas concordam que o diagnóstico do distúrbio é muito complexo e que depende da avaliação de uma equipe multidisciplinar. Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, explica que a discalculia é genética e acompanha o indivíduo durante toda a vida.
    Mas não deve ser confundida com a dificuldade de aprendizado de matemática, que pode ser adquirida por outros fatores, como os emocionais. “Assim como o disléxico troca o ‘p’ pelo ‘d’, o discalcúlico troca o 39 pelo 93”, exemplifica.
    Segundo o neurologista Luiz Celso Pereira Vilanova, professor da Universidade Federal de São Paulo, é comum que a discalculia esteja associada a outros distúrbios, como a dislexia e o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
    “É mais raro ter apenas a dificuldade com os cálculos matemáticos. Estudos apontam a incidência de uma em cada 40 mil pessoas”, afirma.

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