Ritalina, a nova droga da balada


  • 4 de setembro de 2010 | 

  • 23h45 | 

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  • Categoria: ComportamentoSaúde
    Mariana Lenharo
    A universitária Gabrielle Garcia, de 18 anos, usa Ritalina desde os 13, quando recebeu do neurologista o diagnóstico de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Desde então, as dificuldades na escola desapareceram e a capacidade de concentração melhorou. O problema, agora, é lidar com o assédio dos amigos: eles querem experimentar o medicamento – e não é para ir bem na prova.
    A moda é o uso recreativo do remédio, muitas vezes associado ao álcool. “Eles têm muita curiosidade de saber como é o efeito”, conta Gabrielle, que prefere não emprestar Ritalina para ninguém. “É bastante forte. Se a pessoa tiver algum efeito colateral, a responsabilidade será minha”, avalia.
    Gabrielle diz que o fascínio dos colegas pelo medicamento é fácil de explicar. “Ele é estimulante, percebo seu efeito no corpo, me sinto com mais disposição para fazer as coisas. É por isso que as pessoas que nem têm o problema acabam tomando, para ter essa sensação”, acredita. Para os especialistas, a popularização da Ritalina e dos demais medicamentos à base de metilfenidato, usados no tratamento do TDAH, é notória: as vendas anuais desse tipo de medicação passaram de 71 mil caixas para 1,1 milhão entre 2000 e 2008.
    Na opinião da psiquiatra Sandra Scivoletto, que atua no Programa de Álcool e Drogas na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, a Ritalina usada como droga, na balada, faz parte de uma moda cíclica entre os adolescentes. “Os jovens usam o que você imaginar e mais um pouco para ter ‘barato’. Faz parte da natureza deles experimentar. Antes, o que estava na moda era um anti-inflamatório, depois foi o medicamento para Parkinson e, agora, a Ritalina”.
    Segundo a médica, como o remédio tem venda controlada, geralmente o jovem o consegue com um irmão ou com um amigo que o toma com prescrição médica – como tentam fazer os colegas de Gabrielle. Mas, em quem não tem TDAH, a Ritalina provoca uma estimulação excessiva, explica o médico Elisaldo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas da Unifesp. “A pessoa fica agitada, ligada, mais extrovertida e com uma capacidade de se comunicar maior”, esclarece.
    Quando o remédio é misturado ao álcool seus efeitos e reações adversas são potencializados. O jovem pode apresentar insônia, falta de fome, náuseas, dores abdominais, dores de cabeça, tonturas, nervosismo, taquicardia e palpitações.
    Segundo a farmacêutica e toxicologista Nádia Tawil, consultora do Instituto Brasileiro de Estudos Toxicológicos e Farmacológicos, em algumas pessoas os danos podem ser até mais graves. “O jovem que usa o remédio por diversão, para ficar ligado na balada, não tem noção do que pode ocorrer. Em alguns casos, esse uso pode levar até a um enfarte fulminante.”
    Ainda não há estudos que esclareçam se o uso recreativo da Ritalina pode causar dependência. Segundo a psiquiatra Sandra, um jovem nessa situação deve receber “acompanhamento para ver os fatores de risco que o comportamento traz e perceber que isso poderá levá-lo a experimentar outras drogas”. Para os pais, se houver suspeita sobre o uso recreativo, Sandra indica levar o filho a profissionais de saúde para fazer uma avaliação.

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