26 de março de 2011 |
23h22 |
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Categoria: Comportamento, Saúde
MARIANA LENHARO
Desaprovação e críticas excessivas vindas dos pais e de outros adultos próximos à criança são as principais causas do estresse infantil. Essa é a opinião de 63% das crianças paulistanas e gaúchas que participaram de uma pesquisa da ISMA – BR, representante brasileira da International Stress Management Association.
O tema também será abordado no IV Congresso Internacional de Estresse, na próxima sexta-feira, pela psicóloga Márcia Bignotto, da PUC – Campinas. Em seu doutorado ela avaliou um método para controlar a tensão mirim e descobriu que, atualmente, até 5% das crianças têm um nível alto de estresse e que o problema é mais comum em meninas. “Nosso estilo de vida está aumentando esse estresse: são muitas exigências e muitas mudanças que requerem uma estrutura emocional que as crianças ainda não têm”, afirma.
Presidente da ISMA – BR e doutora em psicologia clínica, Ana Maria Rossi acredita que a pressão dos pais é resultado da crescente competitividade no mercado de trabalho. “Muitos estão sofrendo com instabilidade econômica e insegurança em seus empregos. Querem evitar que isso ocorra com os filhos no futuro e, por isso, cobram tanto deles agora, em plena infância.”
O levantamento da ISMA – BR levou em conta um grupo de 220 crianças, com idade entre 7 e 12 anos, residentes na cidade de São Paulo e em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Para 56% o excesso de atividades foi indicado como principal fator de estresse, enquanto que 41% das crianças reclamaram do bullying – em seguida vêm os conflitos familiares, com 33%.
No ambiente escolar, o estresse infantil também tem sido um assunto recorrente, segundo a coordenadora pedagógica Ana Carlota Niero Pecorari, do Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida. Ela diz que quedas no rendimento e mudanças repentinas de humor são os primeiros sinais que chamam a atenção do professor, que trabalha em parceria com a família. “Os pais ficam tão preocupados em oferecer oportunidades de aprendizagem que acabam sobrecarregando a criança.”
Cansaço, insônia, dores de barriga e de cabeça ou enjoos recorrentes também são sinais que podem sugerir quadros de estresse. Nesses casos, a principal recomendação é que os pais se aproximem dos filhos e aprendam a reconhecer suas limitações, medindo se eles estão mesmo sobrecarregados. Na opinião de Ana Maria, é possível deixar claro que a criança tem responsabilidades, mas sem instaurar um clima de pressão. “O melhor é ter uma boa comunicação entre a criança e os pais para que ela não se sinta cobrada pelo que está fazendo”, indica.
A psicóloga diz que outro sinal comum de que há um problema emocional é quando a criança passa a inventar males de saúde para escapar da situação que lhe causa estresse. Por exemplo: se o problema é o bullying na escola, finge uma doença para evitar as aulas. “Não é natural a criança dizer que está doente quando não está. Ela quer brincar, pular. Se tiver dor tem de ir ao médico e, se não estiver doente, é preciso conversar para saber exatamente o que está havendo.”
A psicóloga Patrícia Nakagawa, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também afirma que a pressão familiar é determinante para o estresse infantil, embora acredite que o quadro sofra influência de vários outros fatores. “A criança absorve todas as responsabilidades que os adultos colocam sobre ela e nem sempre percebe que pode não aceitar algumas das exigências dos pais”, explica. “Com isso, fica cada vez mais restrita ao âmbito pedagógico, dos cursos, de forma que sobra pouco tempo para brincar livremente”, completa.
Segundo Patrícia, para preservar a saúde emocional dos pequenos também é importante protegê-los das brigas conjugais e dos detalhes sobre dificuldades financeiras. “Vale explicar que a família vai precisar gastar menos, mas não é necessário expor detalhes da situação econômica porque a criança não é capaz de dar conta daquilo.”
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