‘Os pais já não sabem ser pais’


  • 9 de abril de 2011 | 

  • 23h22 | 

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  • Categoria: Educação
    Mariana Lenharo
    As famílias estão pedindo ajuda para educar suas crianças e desistiram de cumprir a tarefa sozinhas, terceirizando-a para terapeutas, pedagogos, babás e outros profissionais. Já existe até um serviço especializado em socorrer pais desorientados, o coaching family, uma opção que conquistou a Europa anos atrás e agora chega a São Paulo por meio da pedagoga Tânia Queiroz.
    Toda essa dificuldade doméstica, dizem os especialistas, surge porque os pais, atualmente, têm de lidar com questões que não afetavam gerações anteriores: novos formatos de família, a falta de tempo para conviver com os filhos e a culpa que sentem por causa dessa ausência, refletida na dificuldade de impor limites. Soma-se a isso o acesso quase ilimitado das crianças às informações, sem a necessidade de adultos, tirando deles o status de fontes da experiência e do saber.
    A urgência dos pais por algum tipo de ajuda está evidente para a psicopedagoga Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. “Os pais não estão sabendo ser pais. Têm medo de colocar limites e perder o amor dos filhos. Estão confundindo limite com repressão”, afirma.
    Segundo ela, os filhos percebem essa insegurança e tornam-se tiranos, fazendo com que suas vontades sempre prevaleçam. “Fazer um treinamento específico é um processo facilitador, não imprescindível. Participar das atividades que a escola oferece e se aproximar do filho, passando mais tempo com ele, já ajuda.”
    Tânia Queiroz, responsável pelo family coaching no País, propõe workshops temáticos para “fornecer recursos emocionais que os pais possam usar para melhorar o funcionamento da equipe-família”. Segundo ela, as famílias já perceberam que o mau comportamento dos filhos está relacionado à desatualização do método de educação que conheciam.
    “Descobriram que precisavam de ajuda para orientá-los na educação dos filhos e harmonia familiar e que não podiam se limitar a pagar a mensalidade das escolas e presentear os filhos para compensar sua ausência”, diz.
    Presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, Villela da Matta critica o uso do termo ‘coaching’ para se referir à abordagem praticada por Tânia, já que um dos princípios dessa técnica é que o trabalho seja personalizado para as necessidades de cada indivíduo ou grupo. “Coaching é a palavra da moda e ela está sendo banalizada. Quando faço palestras e workshops para diversas famílias, faço um treinamento. Isso não é personalizado”, informa.
    O método do family coaching já vem sendo aplicado nos EUA e na Europa desde a década passada e foi tema de um livro publicado no fim do ano passado pelas psicólogas portuguesas Ângela Coelho e Sandra Belo.
    Independentemente do nome usado para designar a ajuda prestada aos pais, Silvio Barini, diretor do Colégio São Domingos, na zona oeste, confirma o sentimento de desorientação entre as famílias.
    “Algumas têm o ímpeto muito assumido de terceirizar a educação de seus filhos e, ao serem solicitadas diante de algumas questões, dizem que vão enviar o terapeuta, o psicopedagogo ou a babá para o atendimento na escola”, constata.

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