A melhor forma de matar um homem ou uma mulher é subtrair-lhes o futuro. Entender isso é fundamental para pensar a educação emocional (principalmente de forma assertiva) e os entraves do dia a dia. Isso porque nós, seres humanos, vivemos hoje baseados na projeção de nosso futuro.
Com a jovem sem mãos (conto dos irmãos Grimm) não foi diferente, foi o que vimos hoje no encontro de sábado na Policlínica Edukaleidos. O que o diabo tirou da donzela foi o domínio sobre seu futuro.
Muitas vezes não é o nosso presente que determina nosso estado de ânimo ou nossa energia e felicidade, e sim nosso futuro.
Já reparou que muitas pessoas dizem: "Estou infeliz mas não sei por que, tá tudo bem, tá tudo corrido e correndo normalmente", "Nem tempo de pensar na vida tenho, mas estou triste".
É que às vezes o que você queria não era isso: era mais, ou menos.
O futuro projetado na cabeça é que costuma levar o ser humano (único ser vivente capaz de projetar o futuro) a ficar triste ou alegre no presente, de acordo com o futuro que ele mesmo projeta. Exemplificando: se eu penso num fim de semana radiante, eu fico feliz; se eu penso num fim de semana melancólico, eu fico triste.
Quando a jovem do conto (que ainda não era sem mãos) estava ali "levando a vida e deixando a vida lhe levar", varrendo o quintal de um lado para o outro, sem estímulos e, entediada, fazia o que a dinâmica da casa estipulava e não o contrário (estipulava a dinâmica da casa) era presa fácil para o demônio e suas artimanhas.
Às vezes, só de saber com antecedência o que o futuro nos reserva já ficamos mal ou nos sentimos bem.
Assim como acontece quando estamos instalados no passado e depressivos, quando estamos simplesmente olhando para o futuro, aquilo que imaginamos que vai acontecer já nos faz felizes ou tristes, truculentos ou carinhosos, animados e entusiasmados ou acabrunhados e carrancudos.
O ser humano não é só memória, ele é também evocação. Eu posso estar comendo o pão que o diabo amassou no mês de maio, mas como eu sei que logo logo, talvez em dezembro, eu poderei estar de férias descansando em Ilhéus, eu continuo radiante, pois não é o presente que me determina e sim o futuro (ou a projeção que faço dele).
O contrário também pode acontecer: de eu estar em Ilhéus, de boa, nas férias, com tudo perfeito e, só de lembrar que vou voltar a comer o pão que o diabo amassou quando eu chegar em SP, fico mal, em plenas férias, pois sei que vou voltar para o inferno ou para os desafios. Então, o que me determina não é o presente e sim o futuro. Desta forma, mesmo estando no paraíso me sentirei mal com o mal estar do futuro vislumbrado.
É por isso que tirar o futuro de alguém é a melhor forma de matar esse alguém.
Irvin Yalon é um autor que traz a noção de feridas narcísicas. Em seu livro 'O carrasco do amor' fica explicado o motivo pelo qual vivenciamos o luto do fim de uma relação mesmo sendo nossa a escolha de tal fim.
Assim, se você hoje está radiante ou apagado, nada tem a ver com o hoje e sim com o futuro. É por isso que os otimistas podem estar em uma situação até pior que a dos pessimistas, mas o fato de estarem dispostos e confinantes em si no futuro, faz com que transmitam entusiasmo, perseverança, amor pelo belo e pela excelência e pelo aprendizado.
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Abraço fraterno, Mari
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