ABCD da Educação Financeira Assertiva para pais, mães, professores e terapeutas!!

Por Marilene Lima 

Psicóloga, Neuropsicóloga, Psicanalista

Pedagoga, Psicopedagoga e Neuropsicopedagoga

Mestre em Educação: História, Política, Sociedade 

Trabalhei por dez anos com turmas de Educação Infantil de uma prefeitura e doze anos em outra, há dezoito anos trabalho em clínica com crianças, jovens, seus pais e familiares e percebo que muitas famílias:

a)    postergam o diálogo sobre dinheiro com seus filhos;

b)    delegam à escola ou aos terapeutas a função instrutiva de educação financeira, e

c)    intuem que dinheiro não é um assunto legal para se ter com os filhos.

 Contudo, sabe-se que assuntos envolvendo dinheiro, renda e finanças vão fazer parte da nossa  vida inteira, então, falar e fazer educação financeira em casa e na escola é, não só necessário quanto um ato de cuidado e zelo: com os pequenos e jovens, com o mundo, com a vida.   

 A)   Aprendendo a poupar:

Se uma criança ou jovem aprende a poupar, a gostar de mexer com o dinheiro e a entender o valor do dinheiro, se desenvolve, em seu crescimento, com uma consciência quanto a questões tais como: projeto de vida, independência e segurança para agora e para seu futuro. Preparei a tabela abaixo para pais que queriam entender como a educação financeira poderia ser incluída em pequenas ações no dia a dia dos pequenos e jovens. 

Ações (O que fazer)

 

Como fazer/ Faixa etária

 

3-6 anos

Como fazer/ Faixa etária

 

6-12 anos

Como fazer/ Faixa etária

 

13-18 anos

 

Dê algumas oportunidades da criança ou jovem participar de decisões financeiras para que a/o mesma/o comece a se familiarizar com as relações travadas no mundo das finanças, é desperte nele certa atenção ao assunto.

 

Em algumas situações genéricas de compra entregue dinheiro para a criança e peça que ela pague ao caixa a compra feita.

 

Em compras de farmácia, supermercado ou padaria: estipule um valor e uma lista com itens que precisam ser comprados.  Oriente a escolha dos produtos (por marca ou valor, a seu critério) e que ele/a deve comprar aqueles itens com o valor combinado. Entregue dinheiro vivo para ele/a e observe o passo-a-passo que fará.

 

Em situações de indecisão ou vontade de compra impulsiva, dialogue sobre a melhor forma de usar o dinheiro numa dada situação: usar imediatamente ou guardar para um fim específico.

Mostre o valor do dinheiro, evite dar tudo que querem e pedem, restrinja os presentes a datas importantes e não às circunstanciais passeios ao shopping

Quanto aos menores, o ideal é que eles recebam brinquedos e presentes cobiçados por eles em datas especiais, como Aniversário, Dia das Crianças e Natal.

Demais presentes podem ser dados em outras ocasiões: como livros, roupas e itens essenciais (normalmente não são os cobiçados pela criança, mas edificam seu caráter e valores).

Comente sobre a obrigação de pagar a conta de água, de luz e até sobre a conta do supermercado.

Deixe, propositalmente e de forma dialogada, que a criança presencie você recebendo as contas, organizando-as e pagando-as. Envolva-a solicitando que calcule (mesmo que seja na calculadora, coisa que eles amam) o montante a ser pago.

Passe a noção de que o dinheiro é fruto do trabalho duro e que ele deve ser utilizado com muita responsabilidade.

Peça que ele/ela organize numa tabela com data e valor as contas básicas de água, luz e supermercado e faça a soma, subtraindo depois, da receita destinada para tal fim (exemplo salário do pai ou da mãe).

Ajude seu filho a poupar a mesada ou semanada, adote um “cofrinho”, uma carteira ou abra uma conta poupança em nome dele (13-18 anos) para que o pequeno/jovem possa entender melhor como se faz para poupar o dinheiro.

O dinheiro dado/pago semanalmente é melhor porque, para eles, a noção de tempo muito longo ainda é complicada.

*quando digo pago é porque existem situações nas quais a criança deve fazer algo para ter um valor a receber em troca

Estipule um valor baixo e oriente seu filho a como usar esse dinheiro. Caso ele queira comprar um brinquedo ou uma roupa, por exemplo, mostre que será necessário juntar duas “mesadas”.

Mostre como pouparam o dinheiro por bastante tempo para comprar a casa, o carro ou para fazer uma viagem em família.

Bem como para cursar uma faculdade ou curso de especialização.

 

Ensine a criança ou o jovem a definir objetivos para o seu dinheiro guardado.

Não “complete” o valor necessário para algo nem deixe que isso seja feito por parentes (tios, avós, madrinha e padrinho), converse abertamente com eles que está investindo no futuro de seu/ua filho/a e gostaria do apoio deles para isso.

Tome cuidado para não completar o valor necessário para satisfazer os desejos da criança de imediato. Se você assim fizer, de nada valerá o esforço de sua parte em relação a ensinar a poupar.

Faça tabelas para que o/a pequeno/a tome consciência e aprenda a fazer cálculos de quanto tempo e dinheiro ainda faltam para a realização de seus desejos (estipulem juntos, algo que ele/a realmente queira).

Estipule metas constantes, conscientes e consistentes para utilização do dinheiro. Jamais nomeie o montante como “dinheirinho” e faça-o perceber que o dinheiro e o TER não são o fim e sim seus planos de conforto, saúde e lazer e as experiências que terá com essas conquistas.


Existe um livro bem interessante para iniciar a conversa através de uma leitura agradável e instrutiva:

 


Pedro Compra Tudo (e Aninha Dá Recados) de Maria De Lourdes Coelho e Silvia Aroeira, da CORTEZ EDITORA, 24 páginas que conta uma divertida história abordando um tema bastante sério e atual. Pedro é um menino que compra tudo o que vê, e Aninha é uma consumidora consciente. Esses dois personagens vão conscientizar as crianças e os que vivem à sua volta sobre a problemática do consumismo desnecessário do ser humano, um estado perturbador e perigoso que confunde as necessidades materiais com as necessidades emocionais.

A)   Brinque com suas crianças:

a.    Brinque ensinando a poupar:

Brincar e jogar são essenciais para a saúde emocional de crianças e jovens. No consultório utilizo há dez anos o kit Descobrindo o Valor das Coisas (autoria de Mauricio de Souza e  Gustavo Cerbasi. Trata-se de uma caixa contendo pôsteres, um jogo do tipo "Jogo da Vida" e livros que orientam a utilização do material, bem como fornecem informações a respeito da origem do dinheiro, entre outros temas relacionados, ajudando pais, terapeutas e professores na relevante tarefa de ensinar às crianças o valor das coisas e outros temas da educação financeira, de forma divertida e lúdica, com a ajuda da Turma da Mônica. Para quem trabalha com crianças desde os 5 aos 11 anos, vale muito a pena ter esse material.

b.    Brinque ensinando a comprar e a vender:

Em algumas salas de aula na Educação Infantil e na escola terapêutica de nosso Instituto Edukaleidos eu costumava brincar de Supermercado, sendo necessários itens básicos, num brincar em que as crianças revezavam seus papeis como clientes ou atendentes de caixa. Com frutas e legumes de plástico e até “dinheirinho” das lojas de $1,99 ou mesmo desenhados em papel, criávamos desde o logo do mercado, confeccionávamos sacolas ou embalagens e tínhamos como acessórios algumas calculadoras e itens da coleta seletiva vinda das casas das próprias crianças, desta forma aprendiam brincando as relações estabelecidas numa situação de compra e venda estipulando os preços dos itens (procurávamos através do “ok Google” os valores e etiquetávamos os mesmos), programávamos e escrevíamos nossas listas, bem como calculávamos os valores da compra como um todo. No setor / departamento de brinquedos utilizávamos os brinquedos trazidos pelas próprias crianças, simulando situações de compra e venda. 

  A)   Controle, com ela, a gratificação instantânea:

É comum que a criança ou jovem que começa a receber algum valor combinado (na  mesada ou semanada) tenda a querer gastar imediatamente, ainda mais se ele/a perceber que esse é o ciclo natural do dinheiro em sua casa. Como eles/as não tem compromissos financeiros, inicialmente eles não definem a rota do dinheiro na vida deles e desta forma, o mais certo é que sejam modulados por hábitos da família ou por seus impulsos. Contudo, a educação financeira deve estar pautada no diálogo e você deve conversar, orientar, fazê-lo refletir e, por fim, perguntar o que ela realmente deseja.

Ensine-a a controlar a satisfação instantânea em nome de um objetivo específico.

Só assim a criança/o jovem se conscientizará e se acostumará a fazer um planejamento do uso de seu dinheiro, de maneira que ele seja melhor aproveitado para suas experiências de conforto, lazer e saúde. Ao invés de consumir freneticamente, só por consumir ou para ostentar (o que muito acontece com jovens influenciados pelos “influencers”) eles/as descobrirão que uma forma mais inteligente para usar seus recursos é definindo objetivos claros e alicerçados em projetos e sonhos, passando a definir melhor seus desejos e definindo melhor e mais conscientemente algo que realmente queira muito.

Existe um estudo na Universidade de Stanford que teve início em 1972 intitulado O TESTE DO MARSHMALLOW, foi um estudo longitudinal, ou seja, que se estendeu por vários anos, que constatou que as crianças que conseguiram suportar a frustração e postergar a recompensa imediata tiveram menos problemas com desempenho escolar, com obesidade, com manejo do estresse, com seus relacionamentos e com uso abusivo de entorpecentes, bem como se tornaram adultos mais assertivos em seus projetos de vida. Faça com ela um teste pparecido, com algum doce do qual ela goste muito. Assista com ela o experimento e, a depender da idade, reflita sobre a atitude tomada por ela, caso seja possível, compartilhe com ela os resultados do experimento, como lhe descrevi acima, mas com palavras que ela entenda.

 


 A)   Defenda a criança e o jovem dos apelos do mercado e concientize-a de que desperdiçar não é bacana

 

Em 2008, o documentário “Criança, a alma do negócio” alertou para o resultado devastador dos apelos de mercado voltados ao público infantil e propôs uma reflexão sobre questões como ética e responsabilidade de cada ator social na proteção da criança frente às relações de consumo.  Refletir sobre o desperdício e acúmulo de itens desnecessários é outro ponto de discussão. Cada coisa tem seu valor e tanto o acúmulo desenfreado como o desperdício impensado são reflexo de uma pessoa que não sabe muito bem o valor das coisas. Além de apontar para fins do ecossistema e sustentabilidade, é necessário fundamentar as atitudes em atos de reciclagem, reaproveitamento (re-uso) e doação, para que a vida útil dos itens dos quais dispomos seja maior e nosso espectro de ação social também o seja. O que é velho ou bobo para mim, pode ser útil para alguém, o que é legal ou fundamental para outra pessoa, deve ser avaliado como útil ou não para mim, numa dialética em que o reter, o ter e o doar façam uma espiral na vida da criança ou jovem, que aprenderá, com pequenos gestos, sua responsabilidade para com o meio e para com o outro, consumindo conscientemente.

 


Que tal assistir a esse vídeo com suas crianças? Na “educação financeira assertiva” devemos, enquanto pais, educadores e terapeutas, incluir a questão dos abusos do mercado e das mídias no cotidiano de suas práticas (principalmente de entretenimento e lazer). Dependendo da maturidade de sua criança ou jovem, assistir ao vídeo vai ajudá-la/o a refletir sobre a importância de utilizar o dinheiro com equilíbrio e se blindar das amarras de uma mídia pautada no lucro a qualquer custo, com reflexão e apoio. Quem sabe tornem-se adultos que farão a gestão de seus projetos de vida e conquistas materiais de maneira mais tranquila e pessoal. Tornando-se uma pessoa melhor.

Por último, mas não menos importante, gostaria de deixar aqui uma sugestão de vídeo (embora institucional me pegou fundo e já me fez chorar algumas vezes, talvez por lembrar do esforço de minha mãe frente às batalhas da vida e tudo que fez para que eu fosse quem sou hoje) que retrata bem o seguinte: com foco, força de vontade e fé muita gente pode ou consegue chegar onde quer ou deseja que seus filhos cheguem. Fiquem bem! 



Deixe sua mensagem e assim que pudermos retornaremos! Caso queira manter sigilo ou privacidade escreva para admedukaleidos@gmail.com


2 comentários:

  1. Maravilhoso! A orientação financeira desde a infância possibilita uma melhor conscientização e planejamento do dinheiro, definindo seus gastos e desejos, para que na fase adulta construam e concretizem de forma segura e responsável seus projetos.

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  2. Artigo incrível, ótimas dicas para trabalhar o lado financeiro com as crianças, me diverti muito com a experiência do marshmallow , vou aplicar aqui em casa.
    Quanto ao mercado sempre fui de deixar eles escolherem um item na hora da compra, apesar de sempre quererem levar mais de um e eu sempre orientei que tinham o direito da escolha, ou um ou outro., e apesar do "sofrimento" deles sempre deu certo.

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