Como anda a sua saúde mental?

 




Como a sociedade ou o contexto social contribui para os transtornos mentais.

Por Ilka Passos dos Santos Silva

 “A pior parte de ser ter uma doença mental é que as pessoas querem que você se porte como se não a tivesse”

(Arthur Fleck – Filme Coringa)


Ao assistir ao filme Coringa (2019) fiquei impressionada ao observar como a sociedade contribui significativamente para a existência ou agravamento dos transtornos mentais.

O filme mostra um exemplo extremo de alguém que parece ter uma predisposição genética para transtornos mentais, sofre negligência parental, abuso, violência e maus tratos na infância.

Em um dos episódios de violência sofrido na infância, Arthur Fleck sofre um Traumatismo Cranioencefálico (TCE). Quando adulto é flagrante que suas carências aumentam e, a todo o momento é vítima de violência física ou emocional, o que contribui significativamente tanto para o desenvolvimento de transtorno mental ou sociopatia como para a dificuldade de se conectar com as pessoas e se relacionar.

A sociedade lida de forma desastrosa com Arthur Fleck (Coringa) reforçando a ideia desse artigo sobre a influência do ambiente para a existência ou agravamento dos transtornos mentais.

Todas as vezes que Arthur Fleck (Coringa) tenta se aproximar ou se relacionar com alguém é ridicularizado, rejeitado, humilhado ou ignorado. Ainda assim, busca tratamento, faz uso de medicação contínua e participa de um programa do governo que lhe fornece os remédios e a terapia. Fica-se com a ideia de que ele tenta melhorar e, por fatores externos, fracassa.

No decorrer da trama ele perde o emprego, palhaço de aluguel, e deixa de ser beneficiado pelo Programa assistencial.

Gothan City é uma cidade fictícia que enfrenta questões como as enfrentadas pelas grandes cidades, onde a desigualdade social é uma realidade dura: pobres cada vez mais pobres, sem emprego, saúde, segurança e uma minoria rica que vive em suas mansões numa realidade totalmente diferente da grande maioria.  Essa minoria abastada da sociedade acredita que os pobres são pobres por falta de esforço, ao mesmo tempo em que, de forma preconceituosa e calcada no obscurantismo, acreditam e bradam que a fortuna que têm é fruto de esforço pessoal, ou seja, preceitos da meritocracia.



O filme mostra a evolução de um homem com alguns transtornos mentais tenta sobreviver, resistindo todos os dias aos abusos que sofre para se manter de pé, até quando a última gota cai no copo e dentro dele cresce e aflora um cruel assassino e, desta forma, começa devolver pra sociedade tudo que ela lhe fez de ruim.


Isso te lembra algo? Fiquei pensando, imaginando como é a realidade de pessoas com transtornos mentais na nossa sociedade, como são tratadas?

Em sua maioria, presos dentro de casa, fora do convívio da sociedade, exclusos.

As pessoas com transtornos mentais são estigmatizadas, são tratadas como fracas, frescas, anormais, problemáticas, que vivem fora da realidade, perigosas, e tantos outros nomes.

Não basta o esforço que a pessoa tem de fazer para lidar com suas dificuldades, ainda tem o desafio de se fazer incluso na sociedade e entender/ elaborar os desvios praticados contra elas.

As políticas públicas são precárias ou inexistentes e não dão conta da demanda. Segundo o site da prefeitura da cidade de São Paulo, a capital conta com 93 Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS), sendo 30 deles para Álcool e Drogas, 31 Infanto-juvenis, 32 Adultos. Ao todo 37 como acolhimento integral funcionamento 24hs. O programa é super bem escrito e elaborado, porém, quem os procura não encontra profissionais para atendimento. 

Em meio a minha pesquisa ouvi Pedro Calabrez (Doutor em Ciências Ph.D., em Psiquiatria e Psicologia Médica pelo Laboratório de Neurociências Clínicas) dizer, que muitos médicos que estão na rede pública não estão preparados para atender, ou identificar um possível transtorno para apenas fazer o encaminhamento adequado devido as situações precárias de trabalho e a dificuldade de pessoas com baixa escolaridade se expressarem. Queixam-se de uma dor por dentro e o médico receita um remédio para o estômago, e a pessoa continua com suas angústias, seus medos. Lamentável.

O estilo de vida que levamos contribui para que cada vez mais pessoas desenvolvam esses transtornos. A correria do dia a dia, pressão, violência, excesso de estímulos, geram depressão, solidão, ansiedade e tantos outros males que podem levar a transtornos mentais. Numa sociedade que vive de aparência, perfeição e de sorrisos nas redes sociais procurando aprovação (muitas vezes mendigando likes), podem esconder-se pessoas que sofrem em silêncio com medo de parecerem anormais, fracas etc.

 

 

 

 


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