Pra não dizer que não falei das trocas...

Por Prof. MSc. Marilene Lima

Psicóloga, Psicanalista, Mestre em Educação 

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
(...) Vem vamos embora que esperar não e saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

(Geraldo Vandré)

Recebi, outro dia, uma pergunta de uma internauta que pedia: “Socorro! Criei uma alienígena! Como conseguir conexão com minha filha, jovem, que gosta de estudar muito, contudo quanto à convivência com colegas ou conversar comigo, nada interessa, quando tento é sempre momento de crítica e estresse” (A. L. S.)

Bem, gostar de estudar é uma boa pista.

A distância daqueles com os quais se parece mais (coetâneos = mesma idade) e, também, de quem está tão perto, a mãe, é um sintoma de uma fase de escolhas, próprio da adolescência. Seria, por assim dizer, Normal. Normal é tudo aquilo que não foge à regra: uma exceção é que haja conexão instantânea e fluída entre pais (figuras de autoridade) e filhos (adolescentes, procurando saber quem são ou o que querem ser). Assim, certo grau de isolamento é consequência dessa fase. Fase em que se quer descobrir e construir “quem sou” e “com quem combino”, que é o mesmo de: “com quem quero me relacionar?”

Caso não tenha havido a oportunidade ou o traquejo de se estruturar desde a mais tenra infância a construção de uma base de conexão para evitar restrições na comunicação entre pais e filhos, isso deve ser iniciado, ainda que tardiamente, na adolescência. Para tal, vamos pensar numa sigla (em inglês, para ficar mais didático): SALT, que significa sal e, qual esse tempero (SALT) para avivar as relações com seu/ua filho/a e criar CONEXÃO genuína com ele/a:

S) Saiba Ouvir: nas discussões de confronto reflita com ele/a e saia do lugar de quem busca uma autoimagem (nem dele/a) de perfeição. Ouça tudo (inclusive acusações e impropérios) com atenção, acalme-se e chame para a ação, não só contestação. Pergunte qual a ação efetiva que ele/a pode ter para mudar esse estado de coisas (seja ele qual for) e pensem juntos em estratégias e soluções que podem adotar para auxiliar a questão ou postura assertiva. Por último, para ser ouvido, é bom saber ouvir, não só com o ouvido, para isso, oriento que faça o mapa da empatia, abaixo:



A) Acolha: para se conectar, acolha a possibilidade de expressão de seu/ua filho/a. para tal não precisa gostar das mesmas coisas, basta conhecer as escolhas dele/a e falar abertamente sobre elas, encontrando algo de legal nas mesmas. Inicie por dar ouvido às preferências dele/a e amplie-as. Gosta de tal ator/atriz ou cantor/a (de quem você não gosta)? Considere se há algo de errado com a escolha dele/a e até que ponto a influência daquele/a “personagem” (pois artistas ou figuras públicas desempenham um papel) pode ser nefasta para seu rebento: se for, pondere e explique se não for: mesmo não apreciando, use o pensamento divergente para encontrar naquele/a “personagem” algo que edifique o caráter de alguém.

L) Legitime momentos de crítica, mas também de compreensão: entenda que vocês vivem em “universos paralelos” e devem conviver com interesses diferentes. Dar bronca, cobrar, educar, entre outras ações são tarefas de pai e mãe: não as tema! Reconhecer seus próprios erros e limites lhe tornará Humano (demasiado humano), desculpa-se quando necessário e aproximar-se da condição de tão suscetível ao erro ou falhas quanto ele/a também aproximará vocês dois/duas. Lembre-se: você continua a ser autoridade, contudo, sua Humanidade estará mais presente na relação.

T) Troque: faça de sua relação com seu/ua filho/a uma troca constante, tanto em termos de perdas, quanto em termos de ganhos, estabelecendo não só um sistema de recompensas como de consequências. Use desenhos ou tabelas para não só para planificar suas ações, como para explicar e clarificar para seu/ua filho/a sua conduta para com ele/a. Proporcione uma troca pautada na margem 70/30, ou seja: enquanto você for gestor/a da vida de seu/ua filho/a deverá comandar 70% da vida dele/a e poderá negociar 30%, isso instaurará a Falta como movimento de busca, assim, quando ele/a passar a ser gestor/a de sua própria vida, a proporção se inverte: ele/a comandará 70% da própria vida e você(s) poderá(ão) interferir com suas sugestões em 30% na vida dele. Informe, também sobre questões inegociáveis: aprimoramento (cursos, estudos, melhoramentos em termos de caráter e conduta), higiene/saúde (aqui não se trata de decoração e arrumação, do quarto, ou de sua forma de ver uma casa Ideal, por exemplo, mas de condutas que firam a higiene e possam levar a uma debilidade em termos de saúde) e segurança: rastrear e acompanhar determinadas atitudes, canais ou jogos (e suas conexões nesses ambientes) são atitudes do casal parental, além de serem necessárias são inegociáveis. Pois, historicamente, temos notícias funestas de quando os pais não fazem esse papel (haja vista o caso do game A baleia azul, entre outros).

No mais, não existe receita! Somos todos iguais, braços dados ou não... Confie em seu instinto e intuição. Não busque idealização ou perfeição desse processo de criação de filhos/as. Sempre que possível brinde, brinque e lembre-se que esse período conturbado será bom de ser lembrado quando seu rebento quiser ir embora e você sofrer com o apego ou com o Ninho Vazio... Certamente você sentirá um alívio quando ele quiser ir!

Lembre-se: Uma educação emocional assertiva não se constrói da noite para o dia e, tampouco em dias ou semanas. Tranquilize-se!  


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2 comentários:

  1. Nossa, me vivo tempo todo no texto..todas minhas dificuldades de conexão com meu adolescente... as músicas que ele ouve, por exemplo..sao horríveis...dai eu crítico.. mas não parei muito pra ouvir...Vou guardar este texto...queria pendurar na geladeira.. rsrsrs
    Muito obrigada...quero conseguir

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  2. Que bom que vc gostou. Qual seu nome, idade, local e formação? Caso queira, pode me enviar através do e-mail: admedukaleidos@gmail.com
    Obrigada pela leitura atenta e reflexiva! Mari

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